NOTÁVEIS DIFERENÇAS
César estava nervoso, mais uma vez sua família iria mudar de cidade, ele odiava mudanças em todos os sentidos. César é filho único, sua família tem uma situação financeira muito boa, seus pais Humberto e Isaura trabalham para uma firma muito grande e importante e devido à vida profissional de ambos passavam muito tempo viajando, e constantemente precisavam mudar de cidade, para supervisionar as filiais da empresa.
Devido a esta situação César sempre passou a maior parte de seus dezesseis anos de idade com sua babá Eugênia, uma mulher experiente, muito boa que cuidava de César desde quando o garoto cresceu, e o tinha como um filho. Eugênia adorava aquela família, só não concordava com a forma que Humberto e Isaura criavam César, ela sempre dizia: __ Vocês vão levar este menino a perdição!
Ela se preocupava muito e com razão. Por não poderem estar sempre presente na vida do filho, o casal cobria o menino de mimos, muitos presentes e quase nenhuma regra. César chegava a ser um garoto cruel, frio, totalmente arrogante. Sendo criado como era pelos pais, acreditava ser o dono do mundo que podia mandar e desmandar desprezava todos com muita boa vontade. E ele estava tremendamente irritado, o que seus pais prometeram que não iria acontecer mais, aconteceu, a mudança! Nova cidade, nova casa, novo colégio, César já estava cansado daquela vida. É certo que ele nunca sentia saudade do que ficou para trás, pois, com todo seu orgulho, sua falta de simpatia e cordialidade, nunca conseguiu conquistar um amigo se quer, na verdade nem tentou, todos que se aproximavam, ele tratava com tanta hostilidade, que ninguém tentava novamente.
Em todos os lugares e em todas as atividades coletivas que se fazia presente, César era tolerado, e quando alguém se aproximava dele era por puro interesse financeiro. Estância era uma cidade pequena, mas muito bonita, os moradores muito hospitaleiros abraçavam a todos que na cidade se instalavam. A escola em que César iria estudar não era particular como ele estava acostumado, mas não deixava a desejar, Humberto ficou feliz com o que viu quando foi matricular o filho, talvez fosse bom para o menino conviver com pessoas mais simples e com problemas reais. Humberto sabia que Eugênia tinha razão em censurá-los quanto à criação de César, mas quando ele estava com o filho, não conseguia dizer não, derretia como manteiga e cedia à tudo.
Quem não gostou da nova escola nem um pouco foi César, em sua opinião era inconcebível estudar com pessoas tão diferentes, mas ele não tinha escolha, desta vez não haveria chantagem que desse certo, então o jeito era encarar logo o “povinho”, era assim que ele chamava os outros estudantes. A socialização era um costume do povo daquela cidade e na escola não era diferente, muitos alunos procuraram César para convidá-lo a fazer parte dos times de basquete, voley e futebol, mas ele esnobou a todos. Um dos integrantes ele chegou a destratar publicamente com grosseria e descaso.
__Eu não quero participar de nenhum time deste colégio, eu não sou igual a vocês, simplesmente sou muito melhor, vocês não merecem a minha companhia.
__Tudo bem amigo, eu apenas fiz um convite nada mais.
Neste iterem outros alunos se aproximaram e um deles se adiantou e perguntou:
__Algum problema Marcelo?
__Não Lucas nenhum, eu apenas fiz um convite ao nosso amigo e ele se irritou, disse que não é igual a ninguém aqui, que é melhor que todos, pode?!
César foi se afastando com ar altivo, sem se preocupar com a ofensa feita aos outros rapazes. Lucas ficou olhando o rapaz de longe e respirando fundo comentou:
__É Marcelo, pode sim. Ele realmente não é igual a nenhum de nós, afinal cada pessoa é única, ninguém é igual a ninguém. Mas o que realmente não consigo entender é por que eu, você e outros alunos que desta escola são chamados de deficientes, temos algumas limitações físicas, mas felizmente não temos limitações de bons sentimentos pelos outros e educação.
Marcelo sabia bem do que estava falando, aquela escola era uma das poucas que acolhia a todos sem distinção, aquela escola estava preparada para receber alunos especiais, com diferentes tipos de limitações e ali todos com deficiência ou não, conviviam muito bem. Até este momento!